“Era uma vez.... um menino chamado Śaṅkara (nome dado por devoção à manifestação de Śiva como meditador), que após o falecimento do seu pai quando tinha 6 anos, decidiu sair de casa e procurar um mestre para o ensinar sobre os Veda*s e outros ensinamentos.
A determinada altura da sua caminhada encontrou um sábio na floresta, ao qual perguntou se o aceitava como seu aluno e o sábio perguntou-lhe: Quem és tu?
O poema que se segue composto de 6 estrofes (ṣaṭ=6 kaṁ=frases, grupos..) é a resposta de Śaṅkara ao sábio Govinda Bhagavatpāda ( Govinda=protector dos Vedas - Go=Vedas) Bhagavatan= outro nome para o todo/ Brahman; pāda=pés), resumindo: aquele que se prosta aos pés do todo com a função de proteger e transmitir o ensinamento que consta nos Vedas.
Ādi Śaṅkarāchārya: ādi=primeiro Śaṅkarāchārya= Śaṅkara + achārya=professor; o primeiro professor a transmitir o ensinamento dos Vedas como encarnação na terra de Mahādeva Śaṅkara = Śiva
A forma de apresentação ou explicação deste poema não tem como objectivo uma tradução à letra do poema, mas sim deixar o “significado” de algumas palavras para que tu possas sozinho e da tua forma compor o poema respeitando o seu ensinamento.
Nirvāṇa ṣaṭkaṁ Ātma ṣaṭkaṁ de: ādi Śaṅkarāchārya
Nirvāṇa : estado de liberdade de condicionamentos, felicidade absouluta e imútavel.Ātma: o Ser, o que habita o corpo mas não é o corpo, apenas e só é o Ser, o Eu
1- mano buddhyahaṅkāra cittāni nāhaṃ
ma: minha
no: não é
buddhi: intelecto, pensamentos, memória
ahaṅkāra: o ego
citta: a mente (todo o processo mental)
ani: não
na: não
ahaṃ: eu sou
na ca śrotra jihve na ca ghrāṇanetre
na: nãoca: souśrotra: audição
jihve: paladar
ghrāṇa: olfacto
netre: visão
na ca vyoma bhūmir na tejo na vāyuḥ
vyoma: espaço, arbhūmi: terra como elementotejo: fogovāyu: vento
cidānandarūpaḥ śivoham śivoham ||1||cid= cittaānanda: felicidade suprema, blissrūpa: minha natureza, aquilo de que sou feitośivo: Śiva na forma de o todo, menção à não-dualidade entre o ser individual e o todo.'ham = ahaṁ
2- na ca prāṇasaṅjño na vai pañcavāyuḥ
prāṇa: energiasaṅjño: o que se conhece comopañca: cincovāyu: ventos ( prāṇa, apāna, uḍāna, samāna, vyāna)prāṇa: energia nos pulmões e coraçãoapāna: energia descendente responsável pela excreçãouḍāna: energia responsável pela produção de som, cantar, chorar, mantras
samāna: energia responsável pela digestão, plexo solarvyāna: energia produzida ao nível periférico do corpo
ahaṃ: eu sou (aquele)bhojanaṃ: prazerbhojyaṃ: desfrutadorbhoktā: origem de prazer“eu sou aquele que é nem o prazer, nem o desfrutador nem o que produz prazer”
cidānandarūpaḥ śivo'ham śivo'ham ||4||
5- na me mṛtyuśaṅkā na me jātibhedaḥ
na me: não é minha, pertence
mṛtyu: morteśaṅkā: medojāti: classe social, casta
bhedaḥ: separar, dividir
pitā naiva me naiva mātā na janmaḥ
pitā: painaiva me naiva: nem _ ou _ são meus
mātā: mãejanmaḥ: nascimento
na bandhur na mitraṃ gurunaiva śiṣyaḥ
“não tenho...” bandhur: parentes
mitraṃ: amigos
guru: mestre
śiṣya: aluno
cidānandarūpaḥ śivo'ham śivo'ham ||5||
6- ahaṃ nirvikalpo nirākāra rūpo
ahaṃ: eu sounirvikalpa: sem dúvidas, sem flutuações da mente/pensamentos
kalpa: pensamentonirākāra: livre de estruturarūpa: forma
vibhutvā ca sarvatra sarvendriyāṇaṃ
vibhutvā: omnipotente
ca: tambémsarvatra: omnipresente
sarve: todos
indriya: sentidos“através dos sentidos estou conectado com o todo existente” refere-se a Īśvara
na bandhanaṃ naiva muktir na bandhaḥ
bandhanaṃ: apegadomuktir: libertaçãobandhaḥ: preso, atado, amarrado, condicionado“não sou apegado ou condicionado tão pouco busco a libertação”
cidānandarūpaḥ śivo'ham śivo'ham ||6||
Por motivos de configuração para unicode certas letras aparecem um pouco diferentes.
Ricardo Gil
Texto livre para ler e partilhar, se tiveres gosto em colocar questões sente-te à vontade em me contactar.
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