
O perigo do Yoga na Internet
Admito que o título possa ser um pouco forte, mas de facto tenho vindo a reparar em algumas publicações e decidi escrever este artigo, para alertar para certos perigos.
Publicações de fotos nas redes sociais
Dirijo-me em especial aos professores de yoga que frequentemente publicam certas fotos a executar posturas de Yoga um pouco extremas, talvez não pensando nas possíveis consequências.
Como em tudo há bons e maus profissionais, mas é importante que um professor de yoga esteja consciente das responsabilidades acrescidas quando decide começar a ensinar.
Para muitos o seu professor de yoga vai ser o seu modelo, aquele que eu gostaria de imitar, aquele que eu gostava de ser "igual", fazer as mesmas posturas, ter um ar calmo, comer apenas vegetais, ter um lifestyle euro-indiano.
Quando um professor que tem os seu seguidores no Instagram ou no Facebook, coloca um post nas redes sociais certamente vai ser visto pelos seus alunos e no caso das posturas possivelmente isso será um convite a que se torne um objetivo para o aluno alcançar determinada postura tal como o professor.
Eu sou professor de Yoga e se me colocar no lugar do aluno, vou tentar certamente fazer igual ao professor, o perigo reside em que, não estando o professor presente o aluno pode-se lesionar.
Bem sei que não se pode atribuir a responsabilidade ao professor por uma lesão de um aluno fora da aula, mas tal como sabemos é a prática constante que leva a um conceito idílico de perfeição, por isso o aluno pode cair na teia de praticar sozinho e vir a lesionar-se.
Então qual o papel do professor? Não publicar nada?
Nada disso, cada um faz o que quer, mas penso que o professor poderá deixar uma nota em rodapé avisando que determinada postura por muito elegante, forte, ou contorcionista que seja é fruto de muitos anos de prática e não deve ser praticada sem a presença do professor, mesmo que através de uma plataforma online que permita a visualização prof-aluno.
Caríssimo aluno, quando estiver a ver determinadas publicações de professores de yoga ou outros praticantes, esteja consciente do seu corpo, quais as suas características, limitações físicas e lesões anteriores e relembre-se: Yoga não é sacrifício mas sim beneficio.
Caríssimo colega professor de Yoga, cuidado ao publicar, relembre-se que muitos dos seu alunos irão ver as suas publicações, e com o mesmo cuidado que dá as suas aulas e faz as suas correções ao vivo presencialmente, também tenha esse mesmo cuidado com o que publica.
Aulas de Yoga Online
Com esta nova realidade de aulas online, um professor de yoga depara-se com muitas ferramentas através das quais poderá chegar aos seus alunos. Deixo-vos algumas formas:
Lives: o live é uma forma de dar aulas disponíveis em quase todas as aplicações nas redes sociais, o professor transmite a aula, os alunos veem o professor, mas o contrário não se verifica, sendo o feedback da aula dado apenas por comentários.
Os alunos mais interessados iram comentar mas só depois da aula.
Não permite "correções" mesmo que dados avisos verbalmente, todos nós sabemos a importância de ver e poder ajustar.
Recorded: aulas gravadas que o professor disponibiliza aos seus alunos tendo presente os seus alunos, as suas características e etc e adaptando de forma consciente a prática aos alunos que sabe que irão visualizar essa aula.
Embora ajustada e programada para um determinado grupo, não permite quaisquer correções, não existe nenhum tipo de interação no momento pois o aluno pode fazer a aula posteriormente.
Free Recorded: designei assim as aulas colocadas por um professor para um publico geral, de qualquer idade, características etc.
O perigo está em que não há qualquer interação com os alunos pois podem nem ser alunos.
Vamos pensar no caso de alguém que devido ao confinamento decide começar a praticar Yoga através de vídeos na net, vai tentar imitar as posturas, as sequencias, o ritmo do professor, ou seja tudo e suponhamos que durante 2 meses repete sempre o mesmo erro postural ao nível da lombar... corre o perigo de se lesionar!
Mesmo através de correções constantes e avisos contestantes por parte do professor, quem dá aulas sabe disso, nem mesmo assim os alunos estão consciente e se ajustam, quanto mais através de informações em vídeo...
Face-to-face: utilizar uma plataforma tipo Zoom (por exemplo), através da qual pode ver, ouvir e interagir com os alunos. Para mim é sem dúvida a melhor ferramenta, pois permite ao professor ver o aluno a executar as posturas, ouvir a respiração sendo o mais parecido com uma aula presencial.
Este método é sem dúvida o que eu aconselho, permitam aos alunos falar convosco durante a aula dizerem o que sentem, perguntem como estão.
Por ultimo: cuidado com frases tipo: "sentindo um alongamento na coxa esquerda", o aluno pode ser "hiper-flexivel" e não sentir e vai forçar a articulação do joelho até sentir esse tal de "alongamento extenso", posto isto aconselho este tipo de frases:
- Há alunos que referem sentir uma sensação boa de alongamento, outros sensação de calor, outros apenas uma certa presença do musculo a trabalhar.
- Há alunos que referem ter sentido calor, outros referem sensação de formigueiro, por isso esteja atento e relembre que não é para sentir isso.... "há pessoas que afirmam ter sentido".
Termino deixando a minha disponibilidade para qualquer discussão sobre este e outros temas
Nota: usei sempre o texto na forma masculina mas sempre com manifestação feminina em pensamento, foi apenas para facilitar a escrita.
Yoga é beneficio, não é sacrifício
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